terça-feira, 12 de maio de 2009

04.

A noite estava meio cálida.
Havia decorrido algum tempo sem estarem juntos – o tempo necessário e suficiente para terem intensificado o desejo de voltarem a unir-se, fisica e emocionalmente, no abraço preferido de ambos. Aquele que é só deles e que os envolveu no primeiro encontro deixando claro o fascínio terno que os entrelaçou.
Desta vez, para honrar devidamente o clima de paixão e ternura que os mantém juntos – ligados – optaram por ser originais! Ele resgatou um camião a um amigo seu, de folga nessa noite, e ela, com os olhos a brilhar pela aventura, esperou-o qual moça da noite numa qualquer rotunda sombria na qual ele lhe disse que a apanharia para voarem juntos, asfalto fora noite adentro...
O beijo que trocaram terá soado insuspeito aos olhos de quem passou e observou a cena do embarque. Um beijo frio, técnico, dado por dois seres desconhecidos que apenas tinham agendado fazer companhia um ao outro, numa “noite de trabalho” mútuo. O rádio manteve-se ligado numa estação superficial, rodando canções de um sempre banal, pouco ou nada convidativo a mais do que cantorias desafinadas timbradas pelas vozes dele ou dela, à vez, pois a intimidade que dá lugar ao diálogo estava perfeitamente disfarçado de ausente pelos dois protagonistas em presença. Diria que ambos sonharam um dia obter o papel principal num filmezeco de segunda categoria e, como tal, vestiram a rigor as indumentárias específicas que identificariam sem dúvida cada um deles, na apresentação inicial da película.
Ela, de vestido negro colado ao corpo decotado propositamente de forma exagerada, calçava ainda umas botas de cano alto em pele, meio grosseiras, que ajudavam sobremaneira a dar ênfase ao que se anunciava. Nada mais vestira... Ele, trajava umas calças igualmente justas deixando bem visível o porte tamanho que protegiam. T’shirt desbotada por cima deixava solto o corpo que não escondia...
Lá dentro o tempo abrandara, no ventinho que antes visitava a lua cheia.

Kilómetros percorridos a rigor, com sapiência, pelo camião entregue nas mãos pesadas e fortes do homem de olhar perverso, foram a energia vibrante que justificou o início da queda em desgraça: aos poucos, sem dizer palavra, ela colocou os pés embotados no tablier da máquina, e com ar matreiro e atrevido, abriu as pernas fazendo deslizar o tecido do vestido para trás. De olhos posto ora na estrada, ora na vulva que se descobria desavergonhadamente, o homem deu-lhe apenas uma instrução: “toca-te para mim!” Ela soltou uma gargalhada indiscreta. Fez uma paragem fixando os olhos nos dele, para logo de seguida, quase ao mesmo tempo, se mirar a si mesma no tornear de dedos entretanto molhados que percorriam ja as suas partes mais íntimas...
Outros artistas da noite passavam de um lado para o outro. Alguns bem altos, vizinhos, vislumbravam de relance a magnífica exposição erótica ambulante. Um piscar de luzes mostrava o contentamente geral.
Lá dentro, a rota da terra mudara drásticamente dando lugar ao calor do Verão!

Partiram juntos sem destino marcado à priori, mas a estrada parecia encurtar-se à medida que os sons das canções da rádio mal se conseguiam ouvir, sobrepostos que eram por ruídos de outro calibre, explicitamente ditos pelas bocas de ambos. As calças mesmo justas, fechadas como convém, abriram-se para que uma das mãos do homem pudesse imitar num gesto puro masculino, o enredo já traçado. O decote do vestido desapareceu entretanto, deixando livre o peito altivo e robusto da mulher quase em estado delirante de prazer. Sedentos do toque trocado de mãos, das peles misturadas, as bocas pediam-se mutuamente e ambos sentiam uma vontade imensa de parar ali mesmo, na berma da estrada...

Mas ambos são exímios na arte de representar, e por isso sabiam que a cena final estava ainda longe do seu acontecer....