quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

9.

Cabelos negros, compridos, escorrendo costas abaixo são delicadamente lavados pelas mãos grandes e sábias do homem a quem se entregou há minutos atrás. Rolam beijos de carinho em troca da suave passagem do sabonete pelo seu corpo redondo, pequeno, feminino, em vez de palavras desnecessárias que jamais expressariam o requinte único do sabor adocicado, líquido, que ainda guarda na boca... é tempo de retempero, de permanência, de partilha do sémen da vida adulta.

Acordaram cedo para se amar de novo, para provar um ao outro que se querem, que se desejam, que se buscam em recantos de coxas, nádegas, bocas sedentas calorosas. Exploram-se nos dedos que percorrem o interior dela e na forma como a língua molhada se desembaraça ao rodear-lhe o centro de tudo. Ela abocanha-o provocantemente e ele assiste vendo de cima, exultando-a, pedindo-lhe mais, movimentando-se, dando-lhe o ritmo que quer. A boca fechada acompanha com satisfação. Gosta de o ver gozar. Ela sabe que para além dos seios, a boca é a fonte de todas as delícias. Ambos se jogam nos trunfos que trazem de experiências passadas, traçando as pernas enquanto se preparam para a eterna luxúria.
Atracam-se um no outro e partilham o comando dos movimentos quase quase violentos, vigorosos, frenéticos, em busca de oferecer mais e mais ao amante que pretendem que fique. Querem dar e receber na mesma e exacta medida. Esmeram-se na fornicação real, enquanto fantasiam com voos negros ainda por explorar. Ela promete cabedal, chicote e máscara; ele, promete submissão, obediência... Ela dá-lhe o traseiro e move as ancas largas, pedindo-lhe que a esmague contra si: o prazer que experimenta deixa-a louca, transporta-a para um lugar de enorme fascínio. O rio que a alaga e pinta de branco, escorrendo pernas abaixo, não engana quanto ao deleite vivído... Ele elouquece chegando ao suor que pinga corpo abaixo, transformando-se numa esponja molhada de óleo natural que hidrata as peles de ambos e permite o desenvolver do momento. É hora de orgasmos múltiplos, delirantes, simultâneos. São dois animais em guerra aberta e transparente pelo poder da reciprocidade. Quase disputam a alma para que, na entrega do corpo, se presenteiem com o melhor que sabem possuir, cada um deles, para amar o outro...

5 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

A vida que (es)corre! O suor que se (em)bebe! A ternura que se (des)faz! O (a)mar é assim, (pro)fundo, infinito, à (des)medida da sede.

Texto intenso, mais uma vez! A mostrar como o corpo é a pele da alma.

Alberto Oliveira disse...

... adivinha-se o prazer de quem compôs este texto de palavras húmidas...

abraço.

Justine disse...

Texto magnífico, Azul, que deixaria o Marquis de Sade ou qualquer outro verde de inveja!
Obrigada pelo cuidado, estou bem e de novo no activo :)

Devaneante disse...

Bem, ainda não consegui ler tudo, mas o que o tempo escasso me permitiu, deixou-me uma grande vontade de aqui voltar com mais calma...

Parabéns!

JPD disse...

Muito bem escrito porque houve a preocupação de equilibrar a partilha de desejo e satisfação por cada um dos amantes.

A entrega possivelmente total.

Muito bem

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