terça-feira, 9 de outubro de 2007

1.

Meia noite e um quarto.
De súbito, tomo a decisão de sair p’ra rua. Visto um casaco de malha por cima da saia de seda preta fechando apenas os botões centrais, deixando descaradamente à vista parte substancial do meu colo. Calço umas sandálias altas que mal me vestem os pés, e aquieto-me para acabar de secar as unhas pintadas de fresco. Apetece-me apanhar ar, e estas sandálias são o artefacto ideal para me tornar exactamente naquilo que, hoje, desejo ser: uma Mulher que se oferece gratuitamente a quem a quiser levar para um lugar ermo, desconhecido para si e a quiser “comer”...

Por vezes faço destas coisas a que chamo as “minhas perversidades reais”. Uma vez, ía a caminho do Porto na auto-estrada do Norte e na passagem por Leiria o trânsito foi ficando lento, cada vez mais lento até que parou. A noite desceu apressadamente sobre os veículos e o calor que se fazia sentir pedia que se abrissem as janelas até ao fim e se respirasse ar fresco. Avisados pela Brisa do enorme acidente que tinha ocorrido kilómetros adiante, e desligados os motores, o impulso de estabelecer contacto com a “vizinhança” soou-me aos ouvidos qual sirene estridente, apelando a que saísse para a berma em busca de um cigarro roubado a alguém que valesse a pena conhecer... Íamos demorar!
Caminhei um pouco estrada fora no meio de choros de crianças irritantes e lamúrias de senhoras mal acostumadas com as vidas mundanas que têm, e ao longe avistei um homem acabado de entrar na idade madura que saía do seu carro também, levando à boca aquilo que me apetecia. Alto, de porte altivo e pele sabiamente bronzeada, cabelo negro mesclado de branco como que pintado à mão, ali estava sem dúvida, quem procurava. Esperei que acendesse o cigarro e que uma e outra vez o fumasse de forma a que, de soslaio, eu percebesse o seu ritmo. Fiz depois por me cruzar com ele, passando-lhe ao lado à sua expiração suave e respirei fundo como quem se mostra, como quem expressa o desejo de fumarmos juntos. Olhei-o nos olhos e sorrimos... Fiquei certa de que me esperaria no regresso da caminhada, e que essa seria a hora certa para lhe pedir um cigarro. Continuei estrada adiante, bamboleando as ancas um pouco mais do que o costume, na certeza de que tinha ficado a olhar para o meu traseiro, curioso por saber do gosto da minha boca e, quem sabe, por experimentar o toque da minha pele.

A noite estava estrelada, e o homem parecia contemplativo ao mesmo tempo que sereno. Vestia uma camisa de linho branco que desapertara até meio, mostrando o peito bem torneado, apetecível. Não pude deixar de reparar nisso quando, de volta, parei ao seu lado e olhando para o céu, lhe disse “Fuma comigo um cigarro dos seus?” Olhou-me de novo, mas agora sem sorrir. Abriu levemente os lábios que humedeceu, e pos a mão ao bolso retirando devagar a cigarreira feita de cabedal escuro, poído do tempo. Senti-lhe o cheiro adocicado, quente, amadeirado. Fechei os olhos por um instante e num gesto premeditado, levei as mãos ao cabelo, levantando-o e colocando a nu o meu pescoço.
Senti de repente o rolinho branco a forçar-me levemente a entrada da boca, que abri para o receber sem hesitação. Descerrei os olhos e agradeci com um aceno de cabeça. Ele voltou a sorrir e disse-me que ía para o Porto, assistir a um congresso. “Pelos vistos, só chegaremos de madrugada!”

Fumámos juntos, conversámos tranquilamente, sendo certo que passada uma boa hora e tal, o tempo começou a esfriar. “Vou ao meu carro, buscar um casaco e uma garrafa de água para bebermos. Já volto.” Ao passar na sua frente, rocei ao de leve nas suas pernas e senti-lhe a mão a tocar na minha coxa. Fiquei ofegante sem dar conta, mas continuei a andar na direcção do carro. Havia gente a dormir, outros fumando na rua, alguns comendo o farnel que traziam e fazendo o chiqueiro habitual...

(continua numa noite próxima de si)

3 comentários:

Unknown disse...

Assim ñ vale, acabou logo na melhor parte em k o frio aperta e a necessidade de calor humano aumenta e........... o carro dele será 1 otimo local pk é grande espaçoso e bastante comudo com estofos em pele k dá akela sensação boa nas pernas, uiiii olha como eu estou a divagar por aki a culpa é tua k paraste lol.
Beijossssssssss

Elypse disse...

Prometeste-te que nunca irias descrever esse belo dia aqui.

:)

Unknown disse...

uma narrativa muito interessante... e bem apimentada.
é pena acabar na melhor parte. assim deixas-nos com água na boca...
beijos fofos e doces.