quinta-feira, 11 de outubro de 2007

2.

Quase quase ao tempo preciso em que os sinos das Igrejas costumam assinalar a hora da Cinderela, Idalina põe a chave à porta do quarto do Hotel onde vai dormir esta noite.O jantar oferecido pela Organização do evento em que irá participar amanhã correu bem, ainda que a conversa a tenha aborrecido, por vezes. Talvez a viagem que fizera ao longo da tarde a tenha maçado um pouco ... Talvez as dissertações dos catedráticos em torno da Grécia Antiga lhe tenham soado a nada comparativamente ao que a move: o presente, as pessoas reais. Em contraponto, o peixe grelhado que saboreou lentamente, despertou-lhe a sua líbido calorosa pelo que, apesar de cansada, Idalina sente-se pronta para ter um fim de noite agradável.


Põe as mãos nos atilhos das sandálias que traz calçadas e logo se ouvem os seus pés a aplaudirem entusiasmados, com o agradável toque fresco do chão. Ri-se para eles como quem agradece e devolve a simpatia carinhosa que têm para consigo ao permitir-lhe que os sobrecarregue diariamente com os seus indispensáveis saltos altos.Massaja-os ao de leve para, em seguida, soltar o cabelo e atirar o tailler de linho rosa fúcsia que usou nesse dia para o colo da chaise longue que está junto à janela. De dentro da sua malinha de mão tira o CD "The 7th Song", de Steve Vai, e coloca-o no leitor para ouvir até à exaustão "Touching Tongues".

No quarto de banho, desmaquilha-se e derrama generosamente a espuma de banho pelo fundo da banheira, retorcendo suavemente a torneira e deixando que a água corra devagar até encher.Pendura a roupa num cabide e certifica-se de que o fato branco que escolheu para a sua performance foi devidamente engomado como pedira na recepção, à chegada. Mal pode esperar para o mostrar, e à forma ousada e elegante como lhe molda as curvas acentuadas do corpo. "Adoro estas calças. Amanhã vou arrasar!" Colar de pérolas e lingerie branca - é um fetiche que não dispensa - rematarão a toillete.

Deita-se em cima da cama, disfrutando ainda do som extenuante de Steve. Aquele som de guitarra perpassa-a, envolve-a fazendo com que se sinta quente. Respira-se entretanto no ar, o aroma perfumado do jasmim. Idalina olha-se ao espelho lateral e, com deleite, desnuda o resto do corpo..."podia adormecer agora, mas a tentação aguarda-me e sei que me arrependeria se não disfrutar até ao fim, do que preparei para mim..."Apetece-me algo mais! Linha 9, serviço de quartos. "Cá está. Deixe-me ver o que pode haver ai de interessante... Traga-me uma taça desse vinho tinto que me aquecerá a alma e umas bolachas com queijo. Não é original, mas sabe sempre bem. Delicioso para rematar em beleza este dia sério que tive hoje. Vou tomar um banho, por favor peça para me deixarem o tabuleiro na mesinha está bem? Obrigada."
Do outro lado da parede a água está prestes a transbordar banheira fora, e a espuma branca, imaculada, chama-a a entrar nela como num ninho de verdadeiro prazer! "Hummmm! Que maravilha...", balbuciou.

Uns 15 a 20 minutos passados dentro daquele ventre cálido e adocicado que lhe serenou o espírito, Idalina lava os cabelos que ao escorregarem pelos seus dedos lhe estimulam a fantasia. É particularmente sensível na polpa da cabeça destas extensões naturais que a todos servem os movimentos da preensão. Estão já ligeiramente enjelhados da água quente, o que os torna ainda mais atrevidos porque estriados...
Brinca com eles passando-os pelos mamilos erectos, e desce as mãos a sorrir até á banheira para pegar na esponja que, entretanto, se afundou, para se acabar de lavar. “Vá lá, despacha-te senão ainda adormeces aqui...!”, pensou pouco convencida.

A porta do quarto abriu-se sem que desse por isso, pois Steve estava programado para re-começar até se perder de si, como aliás gosta de se viver. É assim que Idalina o sente – um homem apaixonado pelo som de tal maneira que, se pudesse se confundiria com ele e tornar-se-ia eternamente guitarra. Um jovem de cabelos loiros encaracolados, qual cupido dos livros bíblicos, alto, esguio e maravilhoso, devidamente fardado de empregado de quarto, está lá fora preparando a mesa, e à sua espera sem que o saiba ainda Idalina. Ele mesmo, nem sonha o que o aguarda...

2 comentários:

Unknown disse...

olá.... nem morávia faria melhor... um retrato de ti mesma.... uma ficçao.... uma mensagem subliminar.....

Alberto Oliveira disse...

... há empregados de quarto que têm uma vida muito atribulada... imagino eu, esperando pelo desenrolar da história, quase guião cinematográfico...

abraço.