domingo, 21 de outubro de 2007

3.

Hoje acordei a pensar em texto, a pensar em ti. Sabes que nos imaginava numa espécie de paraíso, ninho de simplicidade, e te pedia para que te entregasses aos meus carinhos sem os temeres. Despia-te com ternura e deitava-te de barriga para baixo numa cama macia, feita de lavado com lençois brancos de linho engomados cheirosos a água de rosas, e eu, nua também, passava um óleo de jasmim e lavanda pelas mãos e pelo meu corpo e transformava-me numa enorme luva humana para te massajar as costas, desde o cóccis até à nuca. Encavalitada nas tuas nádegas, entretinha-te o eixo da coluna vertebral com os meus mamilos hirtos, percorrendo-o nódulo a nódulo, devagar, até acima, até me deitar em ti e beijar-te a cabeça. Depois... Depois, espreguiçava-me como quem acorda e ao esticar as minhas pernas sobre as tuas, deleitava-me rodando um pedaço de mim nos teus contornos e deixava-me descansar para logo, num passo de elegante contorcionismo, erguer o meu tronco até me poder ajoelhar aos teus pés. As tuas nádegas podem ser um ponto interessante para eu brincar, sabias? Bom, mas não era com elas que brincava no meu texto, mas com os teus pés.
As terminações nervosas que ali radicam fazem deles, os pés, um lugar de culto para alguns. Por mim, confesso que os descobri há pouco tempo, mas é já uma sensação única a que guardo e relembro de cada vez que experimento ter um polegar do pé de alguém que me importe, na minha boca. Adoro calcorrear cada dedo com os meus lábios, e passear a ponta da língua por cada falanje, como quem chupa um delicioso gelado de baunilha com pedacinhos de chocolate crocante e algo mais... Ao mesmo tempo que os descobria, aos teus, no meu sonho imaginário, massajava-te os calcanharaes, apertando-os, para logo me servir dos meus polegares superiores e, embebidos no óleo sagrado e estimulante da minha saliva, te percorrer a planta daqueles que, entre botas de biqueira de aço, te levam ao cimo de cada monte e vale e descem contigo os desfiladeiros da vida...

Tens os pés calejados de nada, e a precisarem de serem mimados com um bom creme nutritivo. Mas, creio que isso eu já te tinha dito não já?

Sim, o meu texto seguia. Sim. Seguia mais um pouco. Tu deixavas-te embalar pelos meus gestos e, como de costume, quase adormecias de serenidade só por me teres por perto. Resistindo, pedias mais. Mais carinho minha doce e terna amada, amante... Eu, deleitada com a vénia de prazer a que assistia, vinda da tua alma na direcção da minha, continuava dedicada, ora num ora no outro pé, e beijava, beijava, beijava. Ès delicioso. Também já te tinha dito não já?

As nádegas.

As nádegas são perfeitas. Redondas. Macias. Desenhava-lhes os contornos a lápis de pastel, e recortava-as na minha mente como quem esculpe a cinzel um pedaço de massa, de matéria divina. Beijava-as infinitamente até tu estremeceres de um prazer indizível. Os meis seios tocavam-lhes provocantemente, pedindo-te que te voltes agora e me deixes descansar. Senta-me devagar para te receber dentro de mim. Acolhe-me num abraço e abre a tua boca... Deixa-me ficar por ai.

Hoje acordei a pensar em texto, a pensar em ti. Acordei a abraçar-te no meu desejo de te ter aqui, perto de mim.

1 comentário:

Alberto Oliveira disse...

... como se costuma dizer, "deste a volta ao texto"... com os pés bem assentes na escrita...

beijinho e sorrisos.